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Os dois mundos de Astrid Jones


Autora: A. S. King
Ano: 2015
Editora: Gutenberg
Páginas: 228
Nota no Skoob: 4,1
Minha nota: 3,5

"Porque tudo tem que vir com uma definição tão rigorosa? Quem criou todos esses rótulos?"


  Astrid Jones é uma menina de 17 anos, cursando o último ano do ensino médio, que mora em Unity valley com sua irmã, Ellis, sua mãe e seu pai. Eles se mudaram de Nova Iorque para essa pequena cidade no interior depois que a avó materna morreu, e seus pais acharam que seria uma boa idéia comprar a casa onde a vó cresceu e dar uma infância diferenciada para Astrid e Ellis: ar puro, conexões com os vizinhos etc.


  A família de Astrid é um tanto quanto problemática e desestruturada. Vivem de aparências, como se tudo fosse perfeito, mas que na verdade  não demonstra o essencial: o amor por Astrid. A mãe trabalha demais em casa, muito controladora e exigente. A irmã não é mais tão próxima dela como era antes. O pai é envolvido com drogas, está sempre submisso á mãe e isso faz com que Astrid não tenha ninguém a quem recorrer quando precisa. Ela está sempre se sentindo rejeitada e excluída.


  A cidade de Unity Valley é uma cidade pequena, repleta de fofocas onde o status social conta mais que tudo. Astrid possue alguns amigos muito populares na escola e vive a sombra deles, guardando seu segredos e se sentindo sempre deslocada. 


"Estou fazendo isso por desespero? É alguma fase esquisita pela qual estou passando? E por que, se as respostas são sim, isso parece tão certo?"


   Por não ter ninguém, Astrid cria um hábito de sentar na mesinha do seu quintal e mandar o seu amor aos passageiros dos aviões que passam pelo céu. Ela compartilha suas angústias e medos com as pessoas desconhecidas pois sabe que elas não poderão julga-la e ainda ela se sente um pouco mais reconfortada. 


"E eu não me importo se essas pessoas não me amam de volta. Isso não é pra ser recíproco. É uma entrega. Porque se eu entregar tudo, então ninguém vai poder me controlar, Porque se eu entregar tudo estarei livre."


  É um livro reflexivo com muitas passagens filosóficas que nos mostra a constante batalha interna de Astrid sobre quem ela realmente é, criando assim dois mundos distintos: Um onde ela pode ser quem realmente é, como quer ser. E o outro onde ela pensa primeiro nos julgamentos que a sociedade terá sobre seus atos. Dois mundos completamente diferentes que vão acabar se colidindo. 


Considerações:


  O livro é narrado em primeira pessoa, pela Astrid. Eu achei uma personagem interessante, com uma personalidade própria, cheia de questionamentos atemporais que são de extrema importância sobre igualdade, tolerância.

Os capítulos não são tão longos o que eu acho um ponto super positivo. Algumas vezes durante o livro temos pequenas histórias aleatórias sobre as pessoas que estão nos aviões que Astrid observa. Eu gostei muito das situações colocadas pelos passageiros desses aviões e fiquei com muita vontade de saber mais sobre eles.

  O que eu mais gostei no livro foi a descoberta de Astrid quanto a sua sexualidade, percebendo que ela não tem que ter medo do que ela é. Muito menos medo do que as outras pessoas pensam sobre ela.

  A filosofia é sutil e muito bem retratada no livro. Sempre agregando frases reflexivas e visões diferentes sore as situações pelas quais Astrid passa. A mais marcante do livro, pra mim, é a teoria da caverna que faz com que Astrid perceba que vive realmente presa dentro de si mesma, dos preconceitos, dos julgamentos...e que faz com que ela tenha mais força de se libertar.

"O que importa é a busca pela verdade sobre nossa própria vida, sem preocupar-se sobre o que as outras pessoas pensam que é a verdade sobre nós."


  Os personagens são bem construídos, muito reais. Com seus problemas, medos e limitações. Mas mesmo assim eu não consegui realmente gostar nem me apegar a nenhum deles. Tive empatia pela história que é um tema muito delicado de ser tratado mas eu tinha uma certa resistência de ler, porque após cada capítulo eu ficava mais tensa e o livro me deixava triste pela solidão e todos os problemas que Astrid tem que carregar sozinha nos ombros.

  Em resumo é um livro que gostei, mas só isso. Reconheço que é muito bem escrito, tem reflexões bem construídas junto com a história mas que não me causou os sentimentos que eu esperava que iria me causar.